Da reflexão sobre a morte
- Dra. Anna Alice Marinho Leal
- 21 de fev.
- 2 min de leitura
Acho que antes de mais nada precisamos superar o misticismo e a superstição para tratar do tema com normalidade.
Falar sobre isso não é atrair para si ou provocar reações adversas nas "energias do cosmo". Caso você assim creia, sugiro ficar até o final para ter uma visão mais natural sobre o assunto.
"O sábio pensa na morte com frequência, enquanto o tolo só pensa em se divertir." Essa passagem está em um versículo bíblico, mais precisamente no livro de Eclesiastes, capítulo 7, versículo 4.
Se na escritura sagrada temos uma diretiva tão objetiva quanto essa, me parece prudente levá-la em consideração.
A motivação para escrever sobre isso hoje, vem do fato de uma querida amiga ter acabado de perder sua amada mãe. Ela se foi após o diagnóstico e tratamento de uma condição cardíaca seríssima, em que todos que acompanharam viram o melhorar clínico, confiantes em sua recuperação plena, mas que, no entanto, não aconteceu.
O pesar de notícias assim é óbvio e esperado. A comoção por um amigo que sofre sempre irá representar dor aos que o cercam. A questão de consolo e solidariedade nessa hora são automáticas.
O que pode passar desapercebido, mas que não deveria é a oportunidade para refletir sobre toda a nossa conjuntura de vida e como estamos à mercê de uma realidade muito próxima: todos somos seres mortais e não sabemos até quando estaremos perambulando sobre essa terra.
Vivemos de certa forma, tão autocentrados na fantasia produzida pelo tempo, por possuirmos a ferramenta de contagem de horas, minutos, por nos programarmos, calcularmos prazos, listas de afazeres, desejos e sonhos para o futuro, que acreditamos em certa medida estarmos passando incólumes a verdade de que nem mesmo sabemos se acordaremos amanhã.
Após o primeiro despertar relacionado a nossa própria existência, estendo essa reflexão pessoal, aos que nos rodeiam. Ao treino de pensar sobre a perda de quem amamos, convivemos e contamos na vida.
Treinar a nossa reação diante da perda de nossa mãe, nosso pai, irmãos(as), filhos(as), avôs(ós), entes queridos, amigos íntimos etc.
Sente um desconforto? Um desgosto talvez em pensar deliberadamente nesses cenários tão tenebrosos e dolorosos? Muito provável que sim, mas isso não muda o fato de serem possibilidades reais.
Vislumbrar nosso comportamento diante da concretização dessas realidades nos faz enxergar nossas limitações, nossa capacidade de lidar com o que será necessário, de conduzir outros que precisem de cuidado, de ser apoio para os demais ou de admitir que não conseguiria ser nada disso, mas sim um dos necessitados por apoio, um dos desolados.
Como você se vê em uma situação tão desafiadora assim? Quem você seria em uma hora dessas?
Percebe quão profundo pode ser uma análise assim? Será que é prudente deixar os dias passarem sem nenhum tipo de pensamento sobre a realidade, deixando para descobrir na hora?
Entenda que não estou aqui dizendo que você conseguirá cumprir com o comportamento que você idealizou. Existem pontos circunstanciais que são sim relevantes, mas com toda certeza, ter refletido e elaborado cenários antes amplia sua possibilidade de comportamento simplesmente por ter ampliado seu imaginário.
Deixo de sugestão a obra "A morte de Ivan Ilitch" de Liev Tolstoi.
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